Gerson não depõe, e STJD vai fechar inquérito de injúria racial sem ouvir jogadores do Flamengo

Volante do Flamengo, Gerson não compareceu para prestar depoimento na manhã de quarta-feira, 3 de fevereiro, na sede do Superior Tribunal de Justiça Desportiva (STJD), no Centro do Rio de Janeiro.

Dessa forma, o Tribunal informou que vai dar prosseguimento ao inquérito que apura a acusação de injúria racial por parte de Juan Pablo Ramírez, do Bahia, sem ouvir os jogadores do Flamengo.

O Flamengo encaminhou na noite de terça-feira, 2 de fevereiro, ao STJD o pedido de adiamento dos depoimentos de Gerson, Bruno Henrique e Natan, os dois últimos convocados como testemunhas. Relator do caso, Maurício Neves Fonseca vai despachar nesta quarta, 3/2, a negativa ao pedido. Essa é a segunda vez que o clube tenta remarcar a audiência. Na primeira tentativa indeferida, o tribunal sugeriu que a audiência fosse online, mas o clube propôs que fosse mantida presencialmente. O prazo para conclusão do inquérito termina no dia 11 de fevereiro.

O tribunal havia marcado a audiência presencial dos jogadores para 10h30 (de Brasília) desta quarta, 3/2. O clube informou que os atletas não compareceram porque estão concentrados para a partida de quinta, 4 de fevereiro, contra o Vasco, pelo Brasileirão.

A investigação foi aberta no dia 14 de janeiro a pedido da Procuradoria do STJD. No último dia 25 de janeiro, segunda-feira retrasada, o tribunal tomou os depoimentos do trio de arbitragem da partida e do delegado Marcelo Vianna. A Procuradoria do STJD informou que, concluído o inquérito, vai analisar uma possível infração por parte do Flamengo pelo não comparecimento dos jogadores à audiência.

Nos bastidores, os auditores estranharam a ausência dos jogadores pelo fato de a denúncia ter partido do próprio Flamengo. O clube pôde escolher as datas dos depoimentos e concordou em marcá-los para esta quarta, dia 3/2.

O relator explicou que, ao indeferir a tentativa de adiamento, seguiu o critério de também ter negado os pedidos de Ramírez e Mano Menezes, ex-treinador do Bahia. Os dois vão depor numa audiência online na tarde desta quarta, 3/2, horas antes da partida contra o Fluminense.

O caso

Gerson acusa Ramírez de ter cometido injúria racial na vitória do Flamengo por 4 a 3 sobre o Bahia no dia 20 de dezembro do ano passado, pela 26ª rodada do Brasileirão. Depois do fim do jogo, o volante afirmou em entrevista que ouviu “cala boca, negro!” do jogador colombiano.

Tenho vários jogos pelo profissional e nunca vim na imprensa falar nada porque nunca tinha sofrido preconceito, nem sido vítima nenhuma vez. O Ramirez, quando tomamos acho que o segundo gol, o Bruno fingiu que ia chutar a bola e ele reclamou com o Bruno. Eu fui falar com ele e ele falou bem assim para mim: “Cala a boca, negro”. Eu nunca falei nada disso, porque nunca sofri. Mas isso aí eu não aceito”.

Disse Gerson
Gerson

No dia seguinte, Ramírez se defendeu das acusações em um vídeo divulgado pelo próprio Bahia.

Em nenhum fui racista com nenhum dos jogadores, nem com Gerson, nem com qualquer outra pessoa. Acontece que quando fizemos o segundo gol botamos a bola no meio do campo para sair rapidamente e o Bruno Henrique finge e eu arranco a correr e eu digo a Bruno que” jogue rápido, por favor”, “vamos irmão, jogar sério”. Aí ele joga a bola para trás e Gerson, não sei o que me fala, mas eu não compreendo muito o português. Não compreendi o que me disse e falei “joga rápido, irmão”. Aí passo por ele e sigo a bola. Não sei o que ele entendeu, o que ouviu. Ele jogou a bola e passou a me perseguir sem eu entender o que passava. Dei a volta por trás porque não queria entrar em briga com ninguém e depois ele sai falando que o tratei com “cale a boca, negro” falando português quando eu realmente não falo português. Estou apenas alguns meses no Brasil e sobre isso de ser racista não estou de acordo, porque isso não é bem visto em nenhuma parte do mundo e sabemos que todos somos iguais e em nenhum momento falei isso e menos ainda usei essa palavra”.

Falou Ramirez
Ramirez

Só depois de ouvir as partes é que a Procuradoria do STJD concluirá a investigação para decidir se fará a denúncia sobre o caso ou não. O caso pode ser enquadrado no Art. 243-G do Código Brasileiro de Justiça Desportiva: praticar ato discriminatório, desdenhoso ou ultrajante, relacionado a preconceito em razão de origem étnica, raça, sexo, cor, idade, condição de pessoa idosa ou portadora de deficiência.

A pena prevê suspensão de cinco a dez partidas, se praticada por atleta, mesmo se suplente, treinador, médico ou membro da comissão técnica, e suspensão pelo prazo de 120 a 360 dias, se praticada por qualquer outra pessoa, além de multa, de R$ 100 a R$ 100 mil.

Na comunicação feita pelo Flamengo, Gerson afirmou que a injúria foi ouvida pelo zagueiro Natan. Bruno Henrique também foi citado como tendo tido uma discussão com Ramírez. O jogador do Bahia negou a acusação.

Além da esfera esportiva, o caso é também investigado na esfera criminal pela Delegacia de Crimes Raciais e Delitos de Intolerância.

Fonte – Caique Andrade e Fred Justo (ge/Rio de Janeiro)

Fotos – Jorge Rodrigues e Caique Andrade

Paranavaí 03/02/2021