A despedida para a qual a gente não se preparou

Vivemos uma sexta-feira, 18/06, intensa. Em um dia de alegria pelo começo oficial de uma caminhada olímpica do Brasil com Pia Sundhage, um trio que sempre se depositou muita esperança teve seu encerramento sem a possibilidade de uma despedida dourada. Cristiane ficou fora da lista das 18 convocadas e também das suplentes, deixando de ir a sua quinta edição dos Jogos.

Não estará ao lado de Marta e Formiga em Tóquio para que pudéssemos trabalhar melhor nossos corações para o fim desse ciclo de gala.

Marta e Formiga

O que dói é que esse trio espetacular não recebeu a estrutura e apoio que merecia para chegar ainda mais longe como tantas outras grandes craques que tivemos no passado. Imaginem o que teriam feito naquele auge em 2004/2007/2008 com a organização que o futebol feminino começou a receber agora? Mesmo assim, faltou pouco, é verdade. Foram duas pratas, um vice-campeonato da Copa do Mundo e um futebol exuberante. E pasmem, sempre foram cobradas por uma realidade que a elas não era proporcionada.

Acredito sim que temos atualmente a melhor técnica para subir mais um degrau com a seleção feminina. Afinal, ela é bicampeã olímpica – dois ouros com os Estados Unidos -, além de uma prata com a Suécia e a incrível marca de ter chegado nas últimas três finais olímpicas no torneio feminino de futebol. A lista montada por Pia está dentro do que ela acredita ser possível para o ouro. A frase em sua conta no Twitter, “Vamos buscar esta medalha de ouro!”, dá bem o tom da crença dela em suas atletas. Eu também acredito. Mas me dou o direito, mesmo assim, de sentir a ausência de Cristiane. Lamentar o fim nos palcos olímpicos de uma atacante feroz na área até hoje e que detém o recorde de 14 gols marcados na grandiosa competição. Ninguém, entre homens e mulheres, balançou a rede mais do que ela.

Cristiane e Marta

A treinadora sueca começa assim, ainda que de forma tímida, uma troca de gerações. Desde que assumiu, testou 61 jogadoras. Ficaram alguns nomes pelo caminho, algumas que estiveram sob o comando de Vadão na Rio 2016. Chegaram outras, pela primeira vez. Da lista dos últimos Jogos, foram sete mudanças. Foram mantidas entre as 18: Bárbara, Poliana, Bruna Benites, Rafaelle, Erika, Tamires, Formiga, Andressinha, Marta, Debinha e Bia Zaneratto.

Ao final da participação em Tóquio, teremos novas despedidas. E vejo Pia como a pessoa certa a esse ato, um tanto sentimental para nós brasileiros, mas necessário. E digo que ela é a pessoa certa por conseguir olhar de fora da situação. Respeitar, claro, nossa memória, mas romper com elos que seriam difíceis por aqui.

Adeus a camisa amarela

Ainda lembro lá em 2007, do Prêmio Fifa, que ainda não era o The Best na época. Tivemos nada menos do que duas brasileiras entre as três finalistas. Marta e Cristiane duelavam com Prinz pela honraria, o troféu de melhor do mundo, com a camisa 10 sendo a vencedora. Transfiram agora esse momento para os dias atuais. Dá para entender a dimensão? Cristiane, Marta e Formiga deveriam ser eternas com a camisa canarinho. Assim, não precisaríamos dizer que acabou.

Por – Cíntia Barlem – ge/Rio de Janeiro

Foto: Getty Images

Paranavaí 20/06/2021