Presidente “Bolsonaro” tem mais de 80 camisas de clubes de futebol

Na coleção do presidente Jair Messias Bolsonaro não estão apenas camisas de times grandes ou a Seleção Brasileira de Futebol, tem até de outros países, como China, EUA, Japão e Qatar. Dos 81 uniformes que ele usou publicamente, 22 são de times que não estão nas Séries A, B, C ou D do Campeonato Brasileiro de futebol.

Ao começar a catalogar o uso de camisas de clube pelo presidente, o historiador Figols percebeu alguns padrões. O mais visível deles é o de que Bolsonaro usa o futebol para amenizar algumas das polêmicas em se envolve.

“Depois de fazer uma declaração homofóbica sobre os maranhenses, por exemplo, ele aparece em uma live com a camisa do Sampaio Corrêa e em algum momento dessa mesma live ele pergunta ‘de quem é a camisa desse time?’. Ou seja, ele não tem noção das camisas que ele está vestindo, ele veste mais por convenção do que qualquer outra coisa” afirma o historiador.

Outro ponto levantado por Figols é que o uso de uniformes de times menores, fora das principais divisões do futebol brasileiro, aproxima o presidente de grupos nichados que se expandem de maneira nacional. Ao aparecer em uma live com a camisa do Sport Lagoa Seca (um time amador da Paraíba), por exemplo, o presidente passa uma imagem mais ”popular”.

Bolsonaro começou a usar camisas de clubes de estados onde teve o seu melhor desempenho na eleição de 2018, como Paraná, São Paulo, Rio de Janeiro e Santa Catarina. A partir de 2020, pouco a pouco, ele foi aparecendo com uniformes de clubes nordestinos.

De acordo com o historiador Victor de Leonardo Figols, a inclusão de camisas de times do Nordeste nas aparições do presidente foi algo bem pensado, sobretudo para buscar aproximação com um eleitorado onde Bolsonaro teve menos votos nas eleições de 2018. Na ocasião, o então candidato do PT, Fernando Haddad, foi a escolha de quase 70% dos eleitores nordestinos.

Conquistar o Nordeste é uma estratégia política de aproximar possíveis eleitores ou cativar ainda mais eleitores que votaram nele, já que foi a região onde Bolsonaro teve menos votos nas eleições de 2018″.

Com Marcelinho Carioca

O antropólogo João Paulo Florenzano, da PUC-SP, explica que o mapeamento do uso das camisas pode indicar a existência de uma estratégia ao mesmo tempo nacional e local. “Vestir esta ou aquela camisa envolve um cálculo político em termos dos dividendos que podem ser extraídos da associação do presidente com determinado clube, seja em termos da busca de popularidade, seja no que diz respeito ao jogo político local, como ajudar o dirigente esportivo, e aliado político, em uma campanha eleitoral, por exemplo”.

Fonte – Sergio Pantolfi (UOL/SP)

Paranavaí 27/12/2020