“Não busco perdão, apenas reconhecimento”

O jogador Danilo Avelar, quando ainda vestia a camisa do Corinthians, se envolveu em um caso de injúria racial, em junho de 2021. Durante uma partida online de videogame, o atleta chamou um adversário Filho de uma rapariga preta”, fazendo-o sair pela porta do fundo do clube.

O atual defensor do América-MG, agora, tenta mudar suas ideias, participando de aulas com a influenciadora Winnie Bueno – ela ensina sobre gênero e combate ao racismo em cursos online, e de ações como Wakanda É Nois, que levou cerca de quatrocentos jovens e adolescentes de escolas públicas e projetos sociais de Belo Horizonte ao cinema para assistirem ao filme Pantera Negra: Wakanga Pra Sempre.

Qual foi sua reação ao que aconteceu logo após o episódio de injúria racial? 

Não vou dizer que foi inesperado porque de tudo se espera um pouco. Principalmente desses juízes da internet, onde só há ódio. Não adiantava rebatê-los. Quando vi a gravidade da situação e a proporção que tomou, comecei a raciocinar sobre como superaria aquela situação: ou me escondo ou enfrento – e nunca fugi das minhas responsabilidades. De imediato, assumi e reconheci como algo que não corresponde à minha pessoa. Porém, disse o que não se deve falar, mas que para muitos é normal. De uma certa forma, quis mostrar para as pessoas como errei, e por meio de iniciativa própria e de minha assessoria, buscamos ajuda e comecei a me engajar.

De que maneira? 

Busquei estudar e conversar com ativistas e pessoas em comunidades para entender como é sentir essa dor a vida inteira. Fiquei chocado. Tive aulas com a influenciadora Willie Bueno por seis meses. Percebi que poderia ser um porta-voz para outros, principalmente brancos, que não estudaram a história do racismo. Quis agregar e fazer diferente. Hoje, vejo que cometi um erro, mas, nesse assunto, me sinto superior a todos aqueles que apontaram para mim.

Por que?

Porque busquei conhecimento. Não me omiti, muito pelo contrário. Procurei melhorar, superar e ser engajado. Fui na frente, levantei bandeira e estou na luta, porque é constante. Mas estou apenas começando. Sei do meu nome, sou uma pessoa pública. Porque não usar disso também para propagar essas informações? Até porque, a maioria do meu círculo social é formado por pessoas brancas.

Como a experiência mudou o seu entendimento? 

Fiquei com o ouvido mais apurado e os olhos mais abertos para as coisas que acontecem no dia a dia, que passavam despercebidas na minha frente. Não porque não estava nem aí com a causa racial, mas porque está implantado na nossa sociedade a manutenção da supremacia branca. Me deu raiva quando comecei a entender sobre o assunto, porque não é justo. Isso criou vontade de lutar contra tudo.

Você achou justa a reação das pessoas ao episódio? 

Não gosto dessa palavra, mas obviamente teve um exagero. No Brasil, qualquer coisa vira um efeito manada, ainda mais na rede social, onde só esperam uma notícia para propagar mais ódio. O que de fato existiu foi uma hipocrisia gigantesca de pessoas, instituições e telejornais, que falavam de mim e praticavam o mesmo, de outra maneira.

O Corinthians foi uma dessas instituições? 

Reconheço que foi uma bomba que caiu no colo do clube, mas mostrou o despreparo da diretoria. Por se tratar do ‘time do povo’, foi uma decisão muito precipitada. Todos estavam pedindo uma postura rígida. Contudo isso só serve para apagar o incêndio, e não muda nada. Ainda sou atleta do Corinthians até 31 de dezembro, e não deixo de pensar que ele poderiam ter usado esse problema para curar uma pessoa e mostrar que lá dentro transformam a vida também. Seria um posicionamento mais forte, mais diferente e muito mais impactante do que simplesmente jogar de canto.

Sua história com o clube paulista acabou. E como foi no América-MG, onde atuou na última temporada?  

No Corinthians, o ciclo se encerra. Não recebi nenhuma mensagem ou apoio deles. Em contrapartida, tive um ano maravilhoso no América-MG, e sou extremamente grato pela oportunidade, pois eles acreditaram em mim quando muitos, não. Tive uma lesão grave que me deixou fora quase dois anos, e isso gerou dúvida em muitos clubes. Mas consegui provar que ainda tenho capacidade. Se chegar a um bom resultado, acredito que posso prorrogar, mas estou aberto para negociações.

Você espera que as pessoas lhe perdoem? 

Não busco perdão, apenas reconhecimento. Quando se tem uma notícia bombástica, todo mundo fica atento. Porém, algo positivo as pessoas evitam compartilhar ou engajar. Talvez seja por inveja. Temos que saber valorizar mais a evolução do outro. Seria muito mais fácil negar o que eu fiz. Talvez fosse a maneira que me deixasse no Corinthians, mesmo não conseguindo dormir à noite. Hoje sou uma pessoa evoluída e engajada no tema. É isso quero que todos reconheçam.

Na foto em destaque, Danilo ao lado de Cleisson Lima (assessor) e Luisa Saraiva (co-fundadora da Casa das Pretas).

Por Diego Alejandro (Veja Esporte)

Foto – Divulgação

Paranavaí 11 de dezembro de 2022