“Neco”, 98 anos de história e amor incondicional pelo Atlético Paranavaí

Em um tranquilo lar no Jardim Santos Dumont, em Paranavaí, reside Manoel dos Santos, carinhosamente conhecido como Neco. Aos 98 anos, sua memória se mantém viva e vibrante, especialmente quando o assunto é o Atlético Clube Paranavaí, o “Vermelhinho do fim da linha”, clube que conquistou seu coração e onde ele brilhou nos gramados da Segunda Divisão em diversas temporadas.

Nascido em Aracaju, Sergipe, em 1º de abril de 1927, a trajetória de Neco no futebol começou nas categorias de base do Sergipe, onde atuou por dois anos. Seu talento o levou a rodar por diversos clubes, como o Vitória da Bahia (1948) e o Corinthians de Presidente Prudente (1949). Uma passagem curiosa por Paraíso do Norte, onde imaginou encontrar um time, o fez trabalhar em um cinema, devido à escassez do dinheiro que o Corinthians o havia dado.

ACP em 1952

Foi então que a figura do técnico Ferreira, que também era proprietário de um parque de diversões, cruzou o caminho de Neco novamente. Ferreira, que já o conhecia dos tempos de Adamantina/SP, soube de sua presença em Paraíso do Norte e não hesitou em buscá-lo. “Se for o verdadeiro Manezinho, eu vou buscar ele para o ACP”, disse o técnico, referindo-se a um antigo apelido de Neco. A busca foi feita de forma memorável, em um Jeep, desbravando as estradas de chão até Paraíso do Norte. Foi aqui que “Manezinho” se tornou “Neco”, apelido que o acompanharia para sempre no Paraná. Em 1950, Neco ainda vestiria a camisa do São Paulo de Londrina antes de se fixar no Atlético Paranavaí.

Em campo, Neco era um meia direita habilidoso, vestindo a emblemática camisa 8 e com a versatilidade de chutar com as duas pernas. Sua visão de jogo e capacidade de construir jogadas o consagraram como o “alimentador” do ataque do ACP, função que lhe foi designada pelo técnico Ferreira, em detrimento de Toninho, filho de Natal Francisco.

Foto original de 52

Hoje, Neco reside em Paranavaí há 27 anos ao lado de sua companheira Selma, que conheceu durante uma visita à cidade, onde foi visitar um filho. Apesar de confessar que os salários no futebol de sua época eram modestos (no ACP ganhava 10 mil reis, livre de comida e hospedagem, e sempre morava em hotéis), o amor pelo esporte e, principalmente, pelo Atlético Paranavaí, sempre foi sua maior motivação. Após passagens pelo Rio Branco de Paranaguá (1954) e GERA de Apucarana, Neco ainda retornaria ao ACP a convite de Ferreira, mostrando seu forte laço com o clube. Sua carreira profissional nos gramados se encerrou entre 1959 e 1960.

Neco jogou no GERA/Apucarana em 1956

A vida o levou ao Rio de Janeiro, onde, incentivado pelo irmão Paulo Gomes, sargento da Marinha, fez um curso Comercial e trabalhou por mais de 20 anos nas Casas Pernambucanas, em Copacabana (Posto 9). Aposentado, mas com a paixão pelo futebol intacta, Neco acompanha de longe os passos do seu amado ACP.

Neco com atletas do Paraguai que atuaram pelo ACP

Com a visão debilitada pela diabetes e catarata, Neco se informa sobre o Atlético Paranavaí principalmente através do rádio (Rádio Cultura FM programa Show de Bola). Lamenta a ausência das transmissões dos jogos do clube pelas rádios locais, recordando com nostalgia os tempos da Rádio Paranavaí AM e a voz marcante de Armando Fonseca nas reportagens de campo. Mesmo jogando na Segunda Divisão em sua época, Neco vibrou intensamente com o título da elite Paranaense do ACP em 2007.

Neco conversou em Paranavaí com o goleiro Vanderley (campeão em 2007) e o zagueiro Miranda (São Paulo e Seleção Brasileira), ambos com passagens por grandes clubes.

A memória afetiva de Neco guarda com carinho as lembranças de seus companheiros de time, e com uma ponta de tristeza constata ser o único ainda vivo daquela geração. Um álbum de fotos, que registrava esses momentos, acabou ficando na Bahia com um de seus filhos.

Mesmo distante dos gramados, o coração de Neco pulsa forte pelo Atlético Paranavaí. Ele recebeu com alegria uma camisa do clube, presente doada pelo presidente Nivaldo Mazzin através dos amigos Eliston Marcelo Dias (J.P.) e a esposa Eldimreys de Souza, entregue na terça, 7/5, que ele agradeceu com muita emoção.

J.P. , Edimreys, Neco e Selma

Sua mensagem para a torcida é de esperança e incentivo: “Quero que a torcida acredite no nosso ACP, porque hoje ele está ruim, mas amanhã pode melhorar, ainda mais que tem boas pessoas à frente, inclusive o Gusttavo Lima. Se com ajuda do cantor o time não melhorar, aqui outros não melhorarão”.

Com a voz embargada e os olhos marejados, Neco declara seu amor incondicional ao “Vermelhinho”: “Das dezenas de times que joguei, a paixão maior foi o Atlético Clube Paranavaí, onde joguei por amor”.

Uma paixão que transcende o tempo e as dificuldades, mostrando que a história de Neco se entrelaça para sempre com a do Atlético Clube Paranavaí, um laço que a memória viva de um gigante de 98 anos jamais permitirá que se desfaça. Ele pode não ter enriquecido financeiramente com o futebol, como ele mesmo observa ao comparar seus ganhos com os de Pelé (começou ganhando no Santos 100 mil reis) na época, mas sua história é um tesouro de amor e dedicação ao esporte e ao clube que o acolheu no coração do Paraná.

José Carlos Avelar e Neco

Paranavaí 11 de maio de 2025