Salário de R$ 50 mil, bônus milionário e cargo para o filho: como Martorelli dirige o Sindicato de Atletas de SP há três décadas

Há 28 anos, o Sindicato dos Atletas Profissionais do Estado de São Paulo (Sapesp) tem o mesmo presidente: o ex-goleiro Rinaldo Martorelli.

Nesses 28 anos, foi reeleito seis vezes e transformou o cargo num negócio lucrativo. Ele começou por criar uma remuneração para sua função, aumentou-a sistematicamente, elaborou um bônus milionário e retroativo, reteve valores que poderiam ser repassados a atletas, contratou o próprio filho e transformou o sindicato numa empresa de agenciamento de jogadores.

A reportagem do ge obteve uma série de documentos em cartórios de São Paulo que contam como o ex-goleiro do Palmeiras assumiu o sindicato numa época de vacas magras e aproveitou o crescimento do futebol para transformar seu cargo no Sapesp num senhor emprego. São atas de assembleias, balanços, orçamentos, correspondências e alterações de estatuto.

Martorelli assumiu a presidência em 1993. Por sete anos, não ganhou salário. Até que em janeiro de 2000 criou uma remuneração mensal para seu cargo. Em janeiro de 2005, o presidente contratou o filho, Guilherme Martorelli, como advogado do sindicato.

Em março de 2020, o sindicalista propôs que a assembleia da entidade aprovasse um bônus retroativo que, em valores estimados, chega a R$ 3,5 milhões. Ainda em 2020, Martorelli transformou o Sapesp em uma empresa de agenciamento de jogadores e intermediação de transferências, para que possa faturar a partir da negociação de direitos federativos e econômicos. E entrou em conflito com a CBF por isso.

Martorelli ficou no elenco palmeirense de 1985 a 1987

SALÁRIO E O MODUS OPERANDI

São Paulo tem mais de 9 mil jogadores profissionais de futebol. Mas aprovar qualquer ato numa assembleia do sindicato não requer quórum mínimo. Um exemplo é a reunião que aprovou a criação do salário presidencial. No dia 28 de março de 2000, sete anos após ter assumido a presidência e já reeleito uma vez, Martorelli convocou uma Assembleia Geral para votar a remuneração mensal para o presidente no valor de 30 salários mínimos – “passando a vigorar a partir de janeiro de 2000”, três meses antes.

A proposta foi aprovada por 56 associados: 31 jogadores da Catanduvense, 16 do Rio Claro – clubes que naquele ano disputaram a quinta divisão do Campeonato Paulista – e mais nove atletas identificados como “avulsos” na sede do sindicato.

Martorelli foi procurado e respondeu os questionamentos, no site ge desta desta sexta-feira, 23/04, tem as longas respostas.

Por Leonardo Lourenço, Martín Fernandez e Rodrigo Capelo – ge São Paulo e Rio de Janeiro

Paranavaí 23/04/21